sábado, 12 de novembro de 2016

Fichamento do Texto: A Estética da Diferença e o Ensino das Literaturas de Língua Inglesa.

FESTINOA, Cielo Griselda. A Estética da Diferença e o Ensino das Literaturas de Língua Inglesa. São Paulo: UNIP, 2014.
   Sempre se deve considerar o contexto de produção de uma narrativa literária, especialmente daquelas de culturas distantes de nós em tempo e espaço, porque nos ajuda a reconhecer a pluralidade da estética e suas diferentes manifestações.
     A partir dessa perspectiva é relevante fazer uma leitura crítica do conceito do literário, como um conceito definido localmente e, no panorama atual, em contraponto com outras visões de literatura em outras partes do mundo.
     A estética evoca o que é universal, único, comum, homogêneo, natural, desinteressado, idealista, metafísico (FREITAS CATON, 2002, p. 279), enquanto a diferença aponta para o que é local, situado, contingente, múltiplo, heterogêneo, considerado de uma determinada perspectiva comunitária.
    A ideia da estética como uma concepção única está associada com os valores ocidentais, como sendo uma perspectiva verdadeira e genuína. Isso já vem mostrar que a estética não é desinteressada, mas privilegia uma determinada ideologia que tenta passar por universal.
     A visão universalista da estética é o resultado de uma relação sensorial individual com o mundo, independente de tempo e lugar.
   Quando a estética é entendida como uma prática comunitária e diretamente relacionada com a cultura em que é experimentada, percebe-se que culturas diversas têm diferentes teorias estéticas, propõem metáforas literárias que têm marcas das culturas em que são desenvolvidas e, por extensão, vão se relacionar com o que é considerado como uma obra de arte de maneira diferenciada.
   A diferença pode ser entendida como um jogo (play) permanente entre forças eruptivas e não disruptivas por meio das quais se geram as diferentes identidades culturais.
    A diferença é sempre experimental e inovadora, multiplica-se em múltiplos contextos e implica o amor das formas diferentes. É isso o que a estética da diferença tem como objetivo: o amor do Outro por meio da apreciação de formas diferentes.
   É a partir dessa estética da diferença que entendemos o conceito do literário não como uma categoria universal, mas como culturalmente contingente: uma das formas estéticas que, em conjunto com a imaginação, articula o que um povo aprende da sua experiência: sabedoria, preconceitos, costumes, crenças, práticas etc.
    A Literatura tem significado diferentes coisas para diferentes culturas através dos séculos. Isso se deve a que cada cultura não só tem suas próprias estratégias retóricas e estilos, mas também uma maneira diferenciada de entender, por exemplo, conceitos como o amor, o que está longe de ser uma categoria universal.
    Se no século dezoito o termo literatura era mais amplo, na primeira metade do século dezenove, o Ocidente restringiu o conceito de literatura àquelas narrativas. Foi essa ênfase no aspecto criativo da literatura que fez com o que o literário fosse considerado uma classe de discurso puramente estético, desengajado politicamente como a famosa frase da “arte pela arte mesma”.
   Em outras culturas, porém, os textos literários podem ter valor histórico ou moral, além de qualquer consideração estética.
  O conteúdo estético e afetivo das narrativas literárias torna-se um canal adequado para uma renovação da sociedade em geral e, no caso das literaturas estrangeiras, torna-se um discurso mediador das relações entre diferentes culturas.
   Quando interpretadas, como uma prática de conscientização, as narrativas literárias, pelo plano estético, entram no plano cultural e levam à reflexão sobre o lócus de enunciação do Outro e do Eu.
    Dessa maneira, pela leitura de textos literários, entendidos como construções históricas e sociais que, por sua vez, não só afirmam, mas também interrogam a história das diferentes culturas, passa-se a perceber o modo em que a própria cultura se relaciona com outros locais e, por meio desse posicionamento crítico, torna-se parte de um processo de mudança.
    Falando da educação em sentido lato, a aula de literatura em geral e a estrangeira em particular tornam-se um terreno em que o aprendizado está intimamente ligado a conceitos de lugar, identidade, história e poder, uma vez que permitem uma reconsideração não só da leitura de textos produzidos em culturas tidas como hegemônicas ou periféricas, mas também dos círculos de poder (acadêmicos, políticos, editoriais etc.) que legitimam a leitura de determinados textos em detrimento de outros.
    Aspectos sociais e estéticos se complementam: a leitura dos textos literários não se reduz a aspectos culturais.

    No caso de uma literatura multicultural produzida em língua inglesa, em que o professor se defronta com várias tradições literárias na sua sala de aula, isso implica em se familiarizar com diferentes epistemologias estéticas e sistemas culturais, para não reduzir os textos literários a narrativas sociais, ou desqualificar sistemas artísticos, simplesmente porque eles não coincidem com os nossos. 

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